quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

The First Time

Três horas... Ah, ok. Pareceram mais três minutos.
Sob efeito da adrenalina, eu achei que não ia dormir. Errada. Eu mal havia fechado os olhos quando uma mão gelada tocou meu pé.
- Acorda, princesa.
Mamãe já estava pronta para a viagem. Eu, de pijama. Ela sorria para mim, um sorriso arrasador e brilhante. Os próximos dias seriam nublados, tanto aqui quanto na Flórida. Não fazia diferença nenhuma pra mim, porque, para o meu eterno desgosto, eu não brilhava. Não daquele jeito.
Esfreguei os olhos e levantei, mas tive uma recaída de sono. Sorte que minha mãe me segurou. Fui andando até o banheiro. Tomei um banho demorado, com direito de desperdiçar a água quente. Apesar de ter crescido no frio, ele ainda me incomoda um pouco.

Faltava alguma coisa.
Coloquei uma calça jeans preta, mas nenhuma blusa me agradava. Nem mesmo as jaquetas. Parecia que as roupas estavam ridículas em mim.
- TIA ALICEE! - Berrei, me enrolando em uma toalha branca, foi a primeira coisa que achei. Fui até o quarto de minha tia, no pequeno sofá que tinha lá dentro estava tio Jasper, lendo seu livro da Segunda Guerra Mundial. Ele estava muito interessado em livros, ultimamente. Por isso, acho que não o via muito no dia-a-dia. - Tio, onde est...
Antes que eu terminasse a pergunta, tia Alice saiu do banheiro com uma escova rosa de cabelo.
- Chamou, querida?
- Eu quero uma blusa... Poderia me emprestar uma? - Dei o meu melhor sorriso.
Ela correu para o seu closet e tirou de lá uma blusinha de alças, vermelha cor-de-sangue. Adorei. Levei-a pro meu quarto e vesti. Combinou com a minha jaqueta de couro preta. Deixei meus cabelos soltos, do jeito que sempre gostei. Nada de maquiagem, óbvio. Odeio maquiagem. Como diria a tia Rose: a beleza está em você, em algo que te faça parecer natural.
Desci as escadas. Senti o cheiro de waffles com mel, uma das comidas humanas que eu suporto comer. Vovó Esme adora cozinhar, ser uma "mãe humana", e agora que Sarah vai passar uns dias aqui em casa, ela vai poder fazer comidas normais. Entenda, eu odeio a comida deles. Dei um sorriso forçado para minha vó e peguei um waffle com mel, colocando na boca. Argh! Mel era bom, mas, como dizia Jake ao se referir ao cheiro dos vampiros: doce demais. Minha mãe apareceu novamente. Sua blusa era verde e a calça preta, como a minha. Ela correu os dedos gelados pelos meus cabelos. Suspirei pesadamente e afastei o negócio melequento (espero que o meu pai NUNCA diga que eu pensei isso para vovó) da boca.
- Mãe, ela é como você?
Dirigi meu olhar a ela. Ela pareceu não entender a pergunta.
- Quem? Minha mãe?
- Claro.
Ela fechou os olhos e colocou seu queixo sob a minha cabeça.
- Que tal uma surpresa?
Revirei os olhos e larguei o waffle. Minha mão estava suja. Nossa, eu era mesmo uma meio-humana, ou seja, desastrada. Ouvi um murmúrio baixo, quase não pude identificar as palavras. Mas era tia Rose. Subi para o seu quarto, rápida.
Ela e tio Emmett estavam sentados na cama, a porta estava aberta. Corei, logo achando que estava interrompendo. Eles, em perfeita sincronia, estenderam os braços para mim. Mas tio Emmett sorria, brincalhão como sempre. Tia Rose estava triste. Os abracei, sentindo o toque gelado e o cheiro de doce.
- O que aconteceu? Eu senti que deveria vir. - Falei baixinho. Tio Emmett bagunçou meus cabelos, levando um tapa de tia Rose logo em seguida. Ela se levantou e me levou para o grande espelho na parede do seu quarto.
Eu podia me ver de corpo inteiro. Quase suspirei de tristeza por isso.
Eu era minúscula, talvez a mais baixa da família, com 1,60. Meu rosto estava diferente. Eu continuava envelhecendo, e sabia que logo isso ia cessar. Ia tomar a minha idade imortal. A menina refletida no espelho tinha cabelos longos, ondulados, cor de bronze. Seus olhos eram cor de chocolate, os lábios eram cor-de-rosa, o nariz era fino. Atrás dela, uma loira linda. Me senti humilhada.
- Nessie! - Meu pai reclamou. Ah, pare de ler meus pensamentos, pai.
- Olhe, - disse tia Rose, pegando uma mecha do meu cabelo. - você cresceu tanto. Nem parece mais aquele bebezinho. Mas ainda é, para todos nós.
Senti minhas bochechas queimando.
- Vou sentir sua falta. - Ela me abraçou.
Ah, eu ia sentir falta deles. De todos. Tia Alice, com suas loucuras e desejo por compras, tia Rose, como uma tia amiga, de tio Emmett, que sempre me fazia rir, tio Jasper, que fazia com que eu ficasse calma quando Jake não estava perto de mim.
Jacob Black.
Ah, Deus! O que eu ia fazer sem ele? Logo agora, que eu estava completamente apaixonada? Não era justo comigo.
- Querida? - Minha mãe estava na porta do quarto. Eu não soube o quanto tempo fiquei me encarando e pensando, mas fui até ela. Ela colocou seus braços em volta de mim, enquanto descíamos a escada normalmente, como humanas.
- Calma, mamãe, eu não vou morrer. - Sussurrei.
Ela riu, e isso fazia com que ela ficasse ainda mais bonita. Ela era perfeita. Tentei acompanhá-la, sorrindo.
- Esse sorriso torto... - Comentou ela, dizendo o quanto o meu sorriso era igual o de papai. - É lindo. Eu acho que vai querer fazer uma coisa antes de irmos.
Percebi que o último comentário não foi tão feliz. Então eu ri de verdade. Abri a porta e fui andando para o lado da casa, que dava de frente a uma linda paisagem. Vários pinheiros e todo o tipo de árvores. A primeira coisa que vi foi um lobo avermelhado. Fiz meu típico beicinho chantagista, e o lobo virou-se, voltando para as árvores.
Esperei um tempo, então ele veio. Um adolescente de pele bronzeada, sem camisa, meu. Abracei-o, sentindo seu calor e querendo nunca mais ir embora. Seja lá o que ele tenha falado e eu não tenha escutado, consegui ouvir:
- Nessie, por Deus, dá pra olhar pra mim?
- Não. - Disse, fria, ainda enterrada em seu abraço, sentindo seu cheiro amadeirado e delicioso.
- Por favor. - Ele sussurrou. Eu cedi. Olhei em seus olhos escuros, o que era difícil fazer sem se perder em seu sorriso. Enchuguei uma lágrima que escorria pelo meu rosto. - Ah, pare de chorar.
- Você é muito chato. - Coloquei meus braços em volta do seu pescoço. - E não arrume outra enquanto eu estiver fora.
Ele riu, o som me fez rir também, mas foi de verdade. Ele me olhava bem nos olhos (obviamente, eu estava na ponta dos pés), mas logo me rendi a um beijo. Seus lábios eram macios e quentes, ao contrário dos meus. Corri os dedos da minha mão direita pelo seu rosto enquanto ele sorria contra a minha boca, apertando as mãos em minhas costas. Logo ele falou, baixinho:
- Não se meta em confusões.
- Eu sou boa nisso, não é? - Beijei-o mais uma vez. Voltei a ficar na minha altura normal. - Amo você.
- Eu também te amo muito, Ness. - Ele me abraçou. Corri para o carro, abrindo a porta da Ferrari vermelha e entrando logo em seguida. Minha mãe fungou, provavelmente não gostava do cheiro, nem de eu estar namorando. Coloquei as minhas pernas em cima do banco (ela não se importava, ainda bem) e o cinto logo em seguida. O trajeto até o aeroporto teria matado um humano do coração.
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Afivelei o cinto do avião. Encostei a cabeça na janela, onde eu poderia ver tudo pequenininho lá embaixo. Tirei da minha bolsa uma biografia de Adolf Hitler, um livro que eu nunca tinha lido, e que pode ser interessante. Eu estava do lado de meu pai, e mamãe na última cadeira da fileira, por causa da aeromoça. Ela nos olhou estranho logo que papai entrou no avião, obviamente interessada. Mamãe com ciúmes... Não é bom.
- Lendo sobre nazismo? - Meu pai franziu a testa.
Dei de ombros.
- Vai que eu tenha que estudar sobre isso na universidade.
- Então você já decidiu. - Disse ele, orgulhoso. Mamãe sorria. - Vai para a faculdade conosco.
- Eu já tinha decidido. Há tempos.
Então o avião decolou. Eu estava anciosa para conhecer minha avó. Mamãe parecia aflita. Meu pai parecia entediado. Então a aeromoça loira de batom berrante apareceu. Ela quis fazer com que seu decote ficasse maior, percebi. Rindo, continuei lendo meu livro, percebendo que meus pais estavam de mãos dadas.
- Senhor e senhora Cullen... - Ela deu uma pausa. - E senhorita Cullen, desejam alguma coisa?
- Não, obrigada. - Eu disse. - P...Edward, pode me dar meu iPod?
Ele retirou o item dourado da bolsa da minha mãe, a aeromoça saiu de cena batendo os saltos. Rimos baixinho daquela cena. Mamãe não gostou nada, nada.

Passaram se horas e nós já estávamos na Flórida. Estava dormindo no ombro de papai quando ele me acordou, dizendo que já havíamos pousado. Passei as mãos no rosto nos cabelos, tentando parecer melhor. Sei que quando acordo, minha cara não é uma das melhores.
- Você está linda. - Disse meu pai. - Agora, vamos.
Alugamos um carro. Uma BMW preta, lembrei do carro de tia Rose. Apertei meu medalhão enquanto olhava a cidade. Depois da ilha Esme, no Brasil, a Flórida era o lugar mais quente que eu já estivera. Por sorte, segundo a visão de tia Alice, teríamos 5 dias nublados. E esse tempo eu poderia ficar com minha avó.
Chegamos no hotel que passaríamos a noite, chamava-se Pathernon. A decoração era luxuosa, da Grécia Antiga, cheia de estátuas de deuses. Meus pais eram mais bonitos.  Nem mesmo Apolo ou Afrodite poderiam ser comparados a eles.
Fiquei em um quarto, sozinha. Coloquei minha camisola e liguei a TV do quarto, passando os canais. Em alguns minutos, estava dormindo, novamente.