quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

The First Time

Três horas... Ah, ok. Pareceram mais três minutos.
Sob efeito da adrenalina, eu achei que não ia dormir. Errada. Eu mal havia fechado os olhos quando uma mão gelada tocou meu pé.
- Acorda, princesa.
Mamãe já estava pronta para a viagem. Eu, de pijama. Ela sorria para mim, um sorriso arrasador e brilhante. Os próximos dias seriam nublados, tanto aqui quanto na Flórida. Não fazia diferença nenhuma pra mim, porque, para o meu eterno desgosto, eu não brilhava. Não daquele jeito.
Esfreguei os olhos e levantei, mas tive uma recaída de sono. Sorte que minha mãe me segurou. Fui andando até o banheiro. Tomei um banho demorado, com direito de desperdiçar a água quente. Apesar de ter crescido no frio, ele ainda me incomoda um pouco.

Faltava alguma coisa.
Coloquei uma calça jeans preta, mas nenhuma blusa me agradava. Nem mesmo as jaquetas. Parecia que as roupas estavam ridículas em mim.
- TIA ALICEE! - Berrei, me enrolando em uma toalha branca, foi a primeira coisa que achei. Fui até o quarto de minha tia, no pequeno sofá que tinha lá dentro estava tio Jasper, lendo seu livro da Segunda Guerra Mundial. Ele estava muito interessado em livros, ultimamente. Por isso, acho que não o via muito no dia-a-dia. - Tio, onde est...
Antes que eu terminasse a pergunta, tia Alice saiu do banheiro com uma escova rosa de cabelo.
- Chamou, querida?
- Eu quero uma blusa... Poderia me emprestar uma? - Dei o meu melhor sorriso.
Ela correu para o seu closet e tirou de lá uma blusinha de alças, vermelha cor-de-sangue. Adorei. Levei-a pro meu quarto e vesti. Combinou com a minha jaqueta de couro preta. Deixei meus cabelos soltos, do jeito que sempre gostei. Nada de maquiagem, óbvio. Odeio maquiagem. Como diria a tia Rose: a beleza está em você, em algo que te faça parecer natural.
Desci as escadas. Senti o cheiro de waffles com mel, uma das comidas humanas que eu suporto comer. Vovó Esme adora cozinhar, ser uma "mãe humana", e agora que Sarah vai passar uns dias aqui em casa, ela vai poder fazer comidas normais. Entenda, eu odeio a comida deles. Dei um sorriso forçado para minha vó e peguei um waffle com mel, colocando na boca. Argh! Mel era bom, mas, como dizia Jake ao se referir ao cheiro dos vampiros: doce demais. Minha mãe apareceu novamente. Sua blusa era verde e a calça preta, como a minha. Ela correu os dedos gelados pelos meus cabelos. Suspirei pesadamente e afastei o negócio melequento (espero que o meu pai NUNCA diga que eu pensei isso para vovó) da boca.
- Mãe, ela é como você?
Dirigi meu olhar a ela. Ela pareceu não entender a pergunta.
- Quem? Minha mãe?
- Claro.
Ela fechou os olhos e colocou seu queixo sob a minha cabeça.
- Que tal uma surpresa?
Revirei os olhos e larguei o waffle. Minha mão estava suja. Nossa, eu era mesmo uma meio-humana, ou seja, desastrada. Ouvi um murmúrio baixo, quase não pude identificar as palavras. Mas era tia Rose. Subi para o seu quarto, rápida.
Ela e tio Emmett estavam sentados na cama, a porta estava aberta. Corei, logo achando que estava interrompendo. Eles, em perfeita sincronia, estenderam os braços para mim. Mas tio Emmett sorria, brincalhão como sempre. Tia Rose estava triste. Os abracei, sentindo o toque gelado e o cheiro de doce.
- O que aconteceu? Eu senti que deveria vir. - Falei baixinho. Tio Emmett bagunçou meus cabelos, levando um tapa de tia Rose logo em seguida. Ela se levantou e me levou para o grande espelho na parede do seu quarto.
Eu podia me ver de corpo inteiro. Quase suspirei de tristeza por isso.
Eu era minúscula, talvez a mais baixa da família, com 1,60. Meu rosto estava diferente. Eu continuava envelhecendo, e sabia que logo isso ia cessar. Ia tomar a minha idade imortal. A menina refletida no espelho tinha cabelos longos, ondulados, cor de bronze. Seus olhos eram cor de chocolate, os lábios eram cor-de-rosa, o nariz era fino. Atrás dela, uma loira linda. Me senti humilhada.
- Nessie! - Meu pai reclamou. Ah, pare de ler meus pensamentos, pai.
- Olhe, - disse tia Rose, pegando uma mecha do meu cabelo. - você cresceu tanto. Nem parece mais aquele bebezinho. Mas ainda é, para todos nós.
Senti minhas bochechas queimando.
- Vou sentir sua falta. - Ela me abraçou.
Ah, eu ia sentir falta deles. De todos. Tia Alice, com suas loucuras e desejo por compras, tia Rose, como uma tia amiga, de tio Emmett, que sempre me fazia rir, tio Jasper, que fazia com que eu ficasse calma quando Jake não estava perto de mim.
Jacob Black.
Ah, Deus! O que eu ia fazer sem ele? Logo agora, que eu estava completamente apaixonada? Não era justo comigo.
- Querida? - Minha mãe estava na porta do quarto. Eu não soube o quanto tempo fiquei me encarando e pensando, mas fui até ela. Ela colocou seus braços em volta de mim, enquanto descíamos a escada normalmente, como humanas.
- Calma, mamãe, eu não vou morrer. - Sussurrei.
Ela riu, e isso fazia com que ela ficasse ainda mais bonita. Ela era perfeita. Tentei acompanhá-la, sorrindo.
- Esse sorriso torto... - Comentou ela, dizendo o quanto o meu sorriso era igual o de papai. - É lindo. Eu acho que vai querer fazer uma coisa antes de irmos.
Percebi que o último comentário não foi tão feliz. Então eu ri de verdade. Abri a porta e fui andando para o lado da casa, que dava de frente a uma linda paisagem. Vários pinheiros e todo o tipo de árvores. A primeira coisa que vi foi um lobo avermelhado. Fiz meu típico beicinho chantagista, e o lobo virou-se, voltando para as árvores.
Esperei um tempo, então ele veio. Um adolescente de pele bronzeada, sem camisa, meu. Abracei-o, sentindo seu calor e querendo nunca mais ir embora. Seja lá o que ele tenha falado e eu não tenha escutado, consegui ouvir:
- Nessie, por Deus, dá pra olhar pra mim?
- Não. - Disse, fria, ainda enterrada em seu abraço, sentindo seu cheiro amadeirado e delicioso.
- Por favor. - Ele sussurrou. Eu cedi. Olhei em seus olhos escuros, o que era difícil fazer sem se perder em seu sorriso. Enchuguei uma lágrima que escorria pelo meu rosto. - Ah, pare de chorar.
- Você é muito chato. - Coloquei meus braços em volta do seu pescoço. - E não arrume outra enquanto eu estiver fora.
Ele riu, o som me fez rir também, mas foi de verdade. Ele me olhava bem nos olhos (obviamente, eu estava na ponta dos pés), mas logo me rendi a um beijo. Seus lábios eram macios e quentes, ao contrário dos meus. Corri os dedos da minha mão direita pelo seu rosto enquanto ele sorria contra a minha boca, apertando as mãos em minhas costas. Logo ele falou, baixinho:
- Não se meta em confusões.
- Eu sou boa nisso, não é? - Beijei-o mais uma vez. Voltei a ficar na minha altura normal. - Amo você.
- Eu também te amo muito, Ness. - Ele me abraçou. Corri para o carro, abrindo a porta da Ferrari vermelha e entrando logo em seguida. Minha mãe fungou, provavelmente não gostava do cheiro, nem de eu estar namorando. Coloquei as minhas pernas em cima do banco (ela não se importava, ainda bem) e o cinto logo em seguida. O trajeto até o aeroporto teria matado um humano do coração.
.
.
.
.
Afivelei o cinto do avião. Encostei a cabeça na janela, onde eu poderia ver tudo pequenininho lá embaixo. Tirei da minha bolsa uma biografia de Adolf Hitler, um livro que eu nunca tinha lido, e que pode ser interessante. Eu estava do lado de meu pai, e mamãe na última cadeira da fileira, por causa da aeromoça. Ela nos olhou estranho logo que papai entrou no avião, obviamente interessada. Mamãe com ciúmes... Não é bom.
- Lendo sobre nazismo? - Meu pai franziu a testa.
Dei de ombros.
- Vai que eu tenha que estudar sobre isso na universidade.
- Então você já decidiu. - Disse ele, orgulhoso. Mamãe sorria. - Vai para a faculdade conosco.
- Eu já tinha decidido. Há tempos.
Então o avião decolou. Eu estava anciosa para conhecer minha avó. Mamãe parecia aflita. Meu pai parecia entediado. Então a aeromoça loira de batom berrante apareceu. Ela quis fazer com que seu decote ficasse maior, percebi. Rindo, continuei lendo meu livro, percebendo que meus pais estavam de mãos dadas.
- Senhor e senhora Cullen... - Ela deu uma pausa. - E senhorita Cullen, desejam alguma coisa?
- Não, obrigada. - Eu disse. - P...Edward, pode me dar meu iPod?
Ele retirou o item dourado da bolsa da minha mãe, a aeromoça saiu de cena batendo os saltos. Rimos baixinho daquela cena. Mamãe não gostou nada, nada.

Passaram se horas e nós já estávamos na Flórida. Estava dormindo no ombro de papai quando ele me acordou, dizendo que já havíamos pousado. Passei as mãos no rosto nos cabelos, tentando parecer melhor. Sei que quando acordo, minha cara não é uma das melhores.
- Você está linda. - Disse meu pai. - Agora, vamos.
Alugamos um carro. Uma BMW preta, lembrei do carro de tia Rose. Apertei meu medalhão enquanto olhava a cidade. Depois da ilha Esme, no Brasil, a Flórida era o lugar mais quente que eu já estivera. Por sorte, segundo a visão de tia Alice, teríamos 5 dias nublados. E esse tempo eu poderia ficar com minha avó.
Chegamos no hotel que passaríamos a noite, chamava-se Pathernon. A decoração era luxuosa, da Grécia Antiga, cheia de estátuas de deuses. Meus pais eram mais bonitos.  Nem mesmo Apolo ou Afrodite poderiam ser comparados a eles.
Fiquei em um quarto, sozinha. Coloquei minha camisola e liguei a TV do quarto, passando os canais. Em alguns minutos, estava dormindo, novamente.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Nightmares

A temperatura caíra a noite.
O aquecedor estava ligado e eu rolava na cama. Meu subconsiente funcionava, mas eu estava perdida em meus sonhos. Eu dormiria até mais tarde, até que meu celular começou a tocar.
Engoli um palavrão e movi minha mão até o criado-mudo. Ele continuava a tocar. Olhei no identificador: Sarah.
Estranho. Sarah sempre dormia cedo. Atendi e acho que a minha voz nem saiu:
- Alô?
- N-Nessie?
Ela gaguejou e sussurrou. Okay, aquilo não era comum. Sentia dor em sua voz. Rapidamente, sentei-me na cama, cobrindo-me com os lençóis.
- O que aconteceu? - Perguntei, aflita.
- É Tom - Ela disse, baixinho. - Ele ficou com raiva por eu ter chegado tarde...
Então ela começou a chorar. Um choro de soluços, que partia meu coração. Levantei da cama e comecei a me vestir.
- Estou indo.
Desliguei o celular e, com minha velocidade sobrehumana, em pouco tempo eu estava vestida. Abri a porta e subi para o terceiro andar, indo para o quarto da minha mãe. Chamei:
- Mamãe?
Ouvi murmúrios e outros barulhos que não consegui identificar. Em questão de cinco segundos minha mãe apareceu usando calça jeans e uma blusa de meu pai. Em circustâncias normais eu teria dado uma gargalhada, mas agora não.
- O que aconteceu, filha? Deveria estar dormindo, vamos viajar às 6 horas...
- Mãe, Sarah está com problemas, o pai adotivo dela fez alguma coisa mas ela não me disse, ela estava chorando muito.... - Parei para respirar. - Se o papai vier comigo, o cara pode ser agressivo, mas você tem o escudo... Vamos logo!
Ela correu para dentro do quarto e pegou uma blusa. Desceu a escada antes que eu pudesse piscar. Fiz o mesmo, apesar de não ser tão graciosa quanto ela. Entramos no Mercedes preto e só então tive tempo de respirar.
- Vamos logo. - Eu disse, e ela acelerou.
.
.
.
.
Nem de longe a casa nova de Sarah era bonita como a antiga.
Talvez porque sua falecida mãe tinha um ótimo gosto, enquanto a nova é totalmente apática. Eu havia a "conhecido" na formatura. Essa era sem graça. Saí do carro correndo na velocidade humana, para que nenhum vizinho que estivesse espionando não se assustasse. Olhei pela janela, Sarah estava encolhida no chão, chorando. Abri a porta e corri em sua direção. Ela chorou no meu colo como uma criancinha. Minha mãe entrou logo atrás, nos abraçando.
- Vai ficar tudo bem, olha pra mim. - Eu coloquei seu rosto em minhas mãos, mas devo admitir que preferia não ter visto. Acima do olho direito, estava inchado e roxo, e seu lábio estava machucado.
- Ah, Deus... - Disse minha mãe, colocando a mão sobre o olho de Sarah, já que ela era fria. De repente, um homem usando um roupão azul surgiu. Sério, se eu não fosse metade-vampira, aquele sujeito me deixaria bem assustada. Ele parecia um homem de meia-idade normal, mas seus olhos eram totalmente frios e maus.
- O que está acontecendo aqui, estão invadindo minha casa?
Senti o escudo de minha mãe ao nosso redor. Sarah havia escondido seu rosto em meus cachos, assustada. Seu coração batia como um tambor de marcha.
- Quem você pensa que é para agredir uma menor? - Falou minha mãe, em pé, encarando Tom. Ela era bem assustadora como queria.
- Essa...Essa menina está sob minha conta.
- Mas poderia ter feito ela desmaiar. - Grunhiu minha mãe. - Poderíamos chamar a polícia agora. Ela pediu nossa ajuda. Vamos, Sarah, vamos lá pra casa.
Os olhos dourados de minha mãe encaravam sem medo o homem. Ajudamos Sarah a se levantar e quando saímos da casa, ela chorou ainda mais.
- Ah, me desculpem, eu... eu estava muito assustada e não queria ficar sozinha, eu só lembrei de você para ligar e...
- Está tudo bem. - Garanti. - Vamos lá pra casa, você vai ficar bem.
Sarah ficou no banco de trás do carro e eu toquei o rosto de minha mãe. Obrigada, pelo escudo.
- Não ia deixar vocês desprotegidas, vamos logo.

Ainda nem tínhamos estacionado quando um certo adolescente de cabelos cor de bronze e pele muito pálida estava ao lado do assento do motorista.
- Vocês estão bem?
- Sim, papai. - Sussurrei. - Mamãe foi incrível.
Ela sorriu para mim.
- Não foi nada.
Entramos em casa, mas sentia que a única humana alí ficava meio... envergonhada. Toquei nela, mostrando meus pensamentos: Não tenha medo.
Ela puxou sua mão da minha, me olhando como se eu tivesse acabado de xingá-la.
- Como fez isso?
Dei de ombros.
- É só uma coisinha que faço. Senta aí no sofá.
Olhei no relógio. Marcava três horas da manhã. E daqui a três horas eu estaria dentro de um avião... Pelo menos tia Alice havia feito a minha mala... Completa. Peguei um gelo e coloquei sobre seu olho inchado, enrolado em um pano.
- Eu quero que você fique aqui, mas... Eu vou viajar daqui a pouco. - Quase chorei.
- Ah, eu só precisava de ajuda. Não quero encomodar, sério.
No alto da escada, uma voz disse:
- Eu cuido dela.
Vovó Esme usava seu vestido chinês e seus cabelos cacheados caíam sobre os ombros. Em um segundo estava fazendo uma trança no cabelo de Sarah.
- Não sei como os humanos podem ser tão agressivos... Não se preocupe, querida, eu cuidarei de Sarah.
- Obrigada, vovó.
- Nessie. - Mamãe me chamou, encostada na parede. - Vá dormir.
Eu assenti. Subi para o quarto, mas eu não queria domir, apesar de saber que ia cair no sono. Eu tinha a solução embaixo de minha cama, escondida. Nem lembro onde consegui aquilo... Acho que foi uma vez, em um encontro com os Volturi.
Tirei a tampa da seringa e coloquei a agulha na minha perna, antes que meu pai gritasse:
- RENESMEE!
Já era. Meus olhos encheram-se de lágrimas, não porque tinha doído, mas talvez era efeito inicial da adrenalina.
- O. Que. Você. Fez? - Perguntou ele no meu quarto, tirando a seringa da minha mão.
- Achei que ia ser mais efeituoso que um Red Bull. - Meus olhos estavam completamente abertos, e os sequei com a costa das mãos.
- Mas pra quê?
Ah, papai, por favor, não me faça dar explicações...
- Bom, você sabe, eu não quero dormir para conhecer ela.
- Não me convenceu.
- Você é muito chato. - Disse uma voz feminina na porta. - Nessie é uma moça, faz o que quiser.
Tia Rose usava um vestidinho rosa e eu sentia um pouco de inveja dela, não só pela beleza, mas por usar aquele vestido no frio. Ela colocou o braço em volta dos meus ombros. Meu pai saiu do meu quarto e eu a agradeci. Ela me retribuiu com um sorriso perfeito.
- Vou sentir sua falta, querida. Não sei o que deu em sua mãe.
- Eu também acho que tem alguma coisa a mais do que conhecer a mãe dela, mas, tudo bem. - Eu deitei minha cabeça no ombro da tia Rose. Ela tinha cheiro de cereja.
- Eu ouvi isso! - Disse minha mãe, já em seu quarto. Me senti culpada de interromper ela e meu pai, mesmo não querendo saber o que estavam fazendo.
- A ideia da adrenalina não foi boa. - Ela me repreendeu. Coloquei a mão sobre o furinho da agulha em minha calça. - Deveria tentar dormir mesmo assim.
Ela se levantou e eu me deitei.
- Tudo bem, então. Boa noite, tia.
Ela desligou a luz e desapareceu. Eu sabia que, de maneira nenhuma, ia conseguir domir agora. Mas sabia do que precisava: de alguém quente, que eu amava muito.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Possibilities

Haviam se passado sete dias desde a minha formatura.
Eu havia ganhado um presente de meu pai: uma guitarra cor de cereja, com detalhes em branco. Obviamente, eu adorei o intrumento, apesar de me dar melhor com o piano e causar ciúmes em um certo Jacob por ficar mais tempo com ela. Tio Emmett havia pagado os mil dólares por me fazer beber aquela coisa horrenda (eu fiquei com uma horrível dor de cabeça e o gosto de alcóol na boca mesmo no dia seguinte). Também tive novidades: tia Rose havia me filmando tocando e cantando My Immortal e, não sei porquê, mandou o vídeo para Julliard. Eles me aceitaram. Eu fiquei extasiada com a ideia de viver em Nova York, mas recebi um "não" de meus pais, pois fazia sol na cidade. Era perigoso.
Senti naquele momento que meus sonhos haviam sido destruídos. Sempre gostei de música, e sentia naquele momento a pressão de ir para a universidade com meus pais. Medicina? Não, eu mataria qualquer humano que estivesse jorrando sangue. Direito? Nunca seria capaz de julgar ninguém. O que eu queria era música. Ela falava tudo o que eu sentia.
Mas é claro, essas possibilidades não podiam existir na vida de uma meio-humana, meio-vampira.
Eu estava sentada no sofá, dedilhando Cherry. Sim, esse era o nome da minha guitarra (meu pai achou engraçado. Acho que mamãe pensou "Meu Deus, minha filha está ficando louca colocando nomes nos instrumentos"). Meu celular começou a vibrar no bolso, e eu levei a mão até lá. Vi o identificador de contato e sorri. Atendi logo em seguida:
- Olá, garota. Esqueceu mesmo de mim?
- Nossa, como você é exagerada - Debochou Sarah - Enfim, só estou passando uma mensagem rápida.
- Diga. - Eu falei, tentando equilibrar o celular no ombro enquanto tirava um acorde em sol.
- Estou para enlouquecer com Tom aqui em casa. Falei com Derek. Vamos sair, nós três?
- Espere. - Eu tirei o telefone do ombro e virei para minha mãe, que lia Um Estudo em Vermelho no sofá da minha frente. - Mãe?
Ela olhou para mim com aqueles intensos olhos cor de manteiga derretida.
- Posso sair com Sarah e Derek? Não vamos demorar, por favor... - Fiz biquinho.
Ela sorriu e fez que sim com a cabeça, voltando a se perder no mundo da leitura. Coloquei o telefone de volta no ouvido.
- Posso ir. Pra onde vamos?
- Vai ser só um piquenique - Disse ela. - O pai "zilionário" de Derek deu um carro para ele. Nós vamos te buscar.
- Não vão me sequestrar? - Eu ri.
- Apesar de a ideia ser tentadora, não vou. Se arrume. Vamos estar aí em meia hora.
- Sim senhora. - Desliguei o celular. Coloquei Cherry de pé no braço do sofá e minha mãe perguntou:
- Onde está Jacob?
Eu respondi distraída:
- Não sei, ainda não coloquei um GPS nele.
Ouvimos uma gargalhada estrondosa. Arregalei os olhos, enquanto minha mãe apenas deu um suspiro. Tio Emmett apareceu na sala, como se alguém tivesse feito uma palhaçada realmente hilária.
- Eu já disse que essa menina foi a melhor coisa que você e Edward fizeram? Finalmente alguém que tenha senso de humor comigo!
Dei uma risadinha e subi para o meu quarto. Escolhi uma roupa simples: calças skinny e um blusão vermelho com capuz. Meus cabelos estavam compridos, na metade das costas. Deixei os cachos caídos fora do capuz e coloquei uma bota de cano médio.
.
.
.
.
Enfim, nosso piquenique foi ótimo. Me senti meio desconfortável, porque meus amigos levaram tudo, e eu, apenas era a convidada.  Estar com meus melhores amigos do primeiro (e último) ano na escola foi ótimo. Conversamos sobre tudo, os micos na escola, as notas baixas (pena que não me enquadrei nessa conversa... fazer o quê, sou uma nerd), Charlotte Barnes e seu filho recém-nascido (Sarah disse que o bebê nasceu com chifrinhos e um tridente)... O ano tinha passado rápido demais. Tudo o que tivemos que deixar de lado foi o detalhe de nossas famílias. Derek não sabia do meu lado vampírico, e ele tinha uma família de milionários, o que não gostava. Os pais de Sarah haviam morrido, seu irmão estava morando na Irlanda e seus pais adotivos a odiavam. Nós iríamos, claramente, nos sentir desconfortáveis.
Olhei no relógio. 5 horas. Havíamos ficado alí, de bobeira, por duas horas.
- Ah, caramba. - Eu disse, respondendo rapidamente a mensagem do meu pai: "Já estou indo, papai. O que querem falar comigo?".
- O que foi, Nessie? - Perguntou Derek, franzindo a testa.
- Meu p... irmão, Edward, disse que quer falar uma coisa comigo.
Sarah mordeu de leve o lábio inferior.
- Tudo bem. Vamos levá-la. Mas eu ainda queor sair com você, só as garotas.
- Pode deixar. - Eu falei, enquanto levantáva-mos, entrando no carro.
.
.
.
.
Abri a porta de casa, abaixando o capuz.
- Mãe? Pai?
Em um segundo, eu olhava para o nada. No seguinte, os dois estavam na minha frente. O ar ficou mais frio... Literalmente. Minha mãe colocou a mão no meu pulso e me fez sentar.
- Juro que não fiz nada de errado.
Meu pai deu um sorriso torto e olhou para a minha mãe.
- Conta pra ela.
- O quê? - Perguntei, intrigada. Ela tirou de trás das costas uma coisa, um papel retangular. Demorei um pouco para ler as letras: alguma coisa sobre avião. - Vamos viajar.
Ela sentou-se do meu lado, tirando um cacho do meu rosto. Seu toque era frio, mas reconfortante.
- Mãe...
Eu sentia que havia algo errado, mas por quê?
- Você vai conhecer sua avó materna e meu padrasto. - Ela quase sussurrou. - Demorei muito tempo pra decidir isso, mas acho que já é hora. Sinto falta de minha mãe, ela é mortal e... - Sua voz falhou.
Senti vontade de chorar, ou dizer que não, dizer que não queria conhecer a mãe dela, pois eu sabia que teríamos que mentir para a minha avó. Ela não podia dizer que eu era sua neta sem que revelasse a verdade...
Enterrei meu rosto nos cabelos da minha mãe. Eu estava tremendo. Antes que minha mãe se desesperasse, meu pai leu minha mente e disse a ela:
- Nessie está em choque. Não imaginou que... você sabe.
Ela acariciou meus cabelos. A ideia ainda me assustava.
Jake saiu do quarto dele.
- Não vai fazer nada contra a vontade dela. - Ele afirmou.
Ótimo, timing perfeito. Quase o xinguei.
- Como se você decidisse alguma coisa. - Grunhiu a minha mãe.
- Ah, pelos céus, parem! - Eu gritei. Senti que copiara o vocabulário de Shahriar, dizendo "pelos céus". - Claro que a ideia me assuta um pouco, mas, eu vou fazê-lo.
Percebi que meu pai estava rindo. Olhei séria pra ele.
- Não estou rindo da sua cara, querida. - Disse ele, depois de ler a minha mente.
Levantei da cadeira, suspirando calmamente.
- Onde está tia Rose?
- Ela saiu com Alice. - Falou mamãe.
Peguei meu celular e digitei uma mensagem para tia Alice: "Tia, se souber da viagem, quero que faça a minha mala, pode ser? Coloque as roupas, o sapato, o que for, na conta do papai. Obrigada".
- Por que na minha conta? - Reclamou ele.`Olhei para Jake.
- Desculpe, Bella. - Disse ele. - Eu apenas, sei lá, não queria ela longe.
- Tudo bem. - Murmurou ela. Caminhou até mim e disse: - Descanse um pouco, amor. Vamos amanhã.
Assenti. Ainda estava cedo, mas eu me sentia realmente exausta.
- Descansar... - Sussurrei, sonhadora. Acho que não estava exausta, afinal, só assustada. Assustada como um estúpido bebêzinho. Nossa, como eu sou idiota.
- Não seja tão dura consigo mesma. - Disse meu pai, afagando minha cabeça. Eles desapareceram, indo para o quarto.
Estávamos só eu e Jacob na sala.
- Não ficou chateada, certo? - Perguntou.
Eu ri. Esfreguei as mãos no rosto.
- Claro que não. Bem, você sabe... É assombroso.
Ele fez cara de quem não entendeu.
- O quê?
Abracei-o. Ele retribuiu.
- Esqueça, vou dormir.
Jake colocou as mãos no meu rosto e me beijou. Quando terminou, dei um leve empurrão nele e dei uma risadinha. Ele deu aquele sorriso que eu adoro.
Subi as escadas em uns dois segundos. Entrei no quarto e tirei as botas, jogando-as no canto do quarto. Joguei-me sobre a cama, suspirando pesadamente em cima do travesseiro. Minhas pálpebras pesaram, e logo eu dormi.
Mas minha cabeça continuava trabalhando a mil por hora. Meus pensamentos tentavam decodificar a aparência de minha avó materna. Ela seria linda como minha mãe?